Inês Lourenço - Irmãos Karamazov

Perguntava à menina da livraria
por estes irmãos, cujo nome
ela dedilhou no teclado
com óbvias letras erradas.
- É recente? – indagou
com uma prestável candura.
O eventual comprador parecia
não saber ao certo. Uma espécie
de desânimo atravessa-me os sentidos
na memória nostálgica
dos meus verãos adolescentes, falésias
de tardes febris com a pele
das páginas onde Aliocha e Ivan
ou Sónia e Raskolnikoff
iluminavam a culpa e o temor
que fatalmente já me pertenciam.

      Não se lê para o espírito, lê-se para compor os motores, acelerar as quantidades, aumentar os lucros e minimizar os custos da mão de obra. A menina da livraria poderá um dia não ter emprego. 

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