"O que custa a largar na
vida não é a esplêndida natureza, as grandes ideias, a luta ou as paixões – é o
que fazemos todos os dias, é o hábito. Um médico meu conhecido do Porto, o Dr.
Frias, acabou com estas palavras: – E os meus doentes? Que vai ser dos meus
doentes? – Um pobre chefe de via e obras do caminho de ferro que eu conheci em
Guimarães, só dizia: – A linha! Tenham cautela com a linha! – E a mim, uma das
coisas que me vai custar a deixar são os meus papéis. A vida leva-nos e
aturde-nos. Lutamos. Debatemo-nos. Mas quando chegamos no fim estamos todos
docemente maníacos. O cúmulo é o caso acontecido com o Alfredo Guimarães, cuja
vida se passou na constante preocupação do ‘bric-à-brac’ e que na agonia
recomendava ainda:
– Olhem lá se esses homens quando descerem com o meu caixão vão partir as jarras da Índia que estão no patamar da escada."
– Olhem lá se esses homens quando descerem com o meu caixão vão partir as jarras da Índia que estão no patamar da escada."
in, Memórias
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